No coração da histórica Rua de Loreto, em Lisboa, reside um guardião de memórias: José Carlos Martins Coelho da Silva, o Mestre restaurador de máquinas fotográficas que protagoniza o episódio especial de Portugal à Vista S06E45. Este não é apenas um episódio sobre reparação; é uma viagem emocional através de décadas de história, resiliência familiar e a redescoberta da alma analógica num mundo digital. Intitulado "A Herança do Mestre J.A.: A Nova Geração e a Magia da Fotografia Analógica", este segmento desvenda a oficina que serve de ponte entre o passado glorioso da fotografia e o seu futuro promissor.
A história começa com o pai de José Carlos, o lendário Mestre J. A., que fundou a oficina original nos anos 50, estabelecendo-se na Rua de Loreto em 1967. O Mestre J. A. alcançou um estatuto quase mítico no mercado fotográfico português, tendo sido o reparador oficial para Portugal de marcas alemãs de prestígio mundial, como a Leica, Rolleiflex e Zeiss Ikon, após anos de formação especializada na Alemanha. José Carlos herda este legado de perícia e rigor, embora a sua paixão inicial fosse a arquitetura — um detalhe que hoje se reflete na sua abordagem meticulosa e funcional à restauração de cada peça.
O episódio narra a entrada precoce e forçada de José Carlos no ofício em 1977. Ele recorda com humor e ternura o seu primeiro salário de 200 escudos, que lhe pagou as "melhores férias" da sua vida, e a subsequente imersão no mundo das Kodak Instamatics. O seu verdadeiro teste, contudo, chegou em 1984, quando o Mestre J. A. faleceu repentinamente. José Carlos, ainda jovem, viu-se sozinho, forçado a trabalhar sete dias por semana para honrar grandes contratos com empresas como a Agfa Gevaert. Esta resiliência face à adversidade moldou-o, conferindo-lhe a certeza de que "não há nada que o deite abaixo". O episódio oferece um vislumbre desta determinação inabalável, fundamental para a sobrevivência do negócio através das décadas.
A narrativa ganha um novo fôlego ao abordar a transição digital. José Carlos descreve o período como turbulento, lembrando como os vendedores de equipamentos digitais, na sua ânsia por lucros rápidos, inadvertidamente causaram a ruína de inúmeras lojas de fotografia tradicionais em todo o país. O Mestre, porém, manteve-se firme, impulsionado pelo conhecimento de que a maioria das avarias, mesmo no digital, tem origem mecânica. Ele revela que só voltou a sentir prazer no trabalho com o ressurgimento da fotografia analógica, que permite um "bom acabamento", o polimento de cromados e a restauração que fazem uma máquina parecer "acabada de sair da fábrica". Para ele, reparar uma câmara analógica é uma arte de desmontar, limpar e lubrificar, enquanto o digital se resume a uma fria "substituição de peças".
O Mestre da Luz também reflete sobre o futuro e o significado profundo do seu trabalho. Hoje, a sua clientela principal é inesperadamente jovem, entre os 15 e os 35 anos, que procuram restaurar as máquinas dos seus pais e avós. José Carlos explica que esta nova geração valoriza a qualidade estética superior do negativo, as cores fiéis e os tons de pele que o digital tem dificuldade em replicar. Não se trata de uma moda passageira, mas de uma escolha consciente pela beleza e pela durabilidade. O seu maior desejo é que o seu filho e os seus colaboradores, como o fiel Gil, continuem esta nobre arte, garantindo que o legado do Mestre J. A. e a riqueza da fotografia portuguesa permaneçam á vista para as próximas gerações. Uma ode imperdível à história, à técnica e ao afeto que se esconde em cada clique.
In the heart of Lisbon’s historic Rua de Loreto resides a guardian of memories: José Carlos Martins Coelho da Silva, the Master camera restorer who stars in this special episode of Portugal à Vista S06E45. This is not merely an episode about repair; it is an emotional journey through decades of history, family resilience, and the rediscovery of the analog soul in a digital world. Titled "A Herança do Mestre J.A.: A Nova Geração e a Magia da Fotografia Analógica," this segment unveils the workshop that serves as a bridge between the glorious past of photography and its promising future.
The story begins with José Carlos’s father, the legendary Master J. A., who founded the original workshop in the 1950s, establishing the Rua de Loreto location in 1967. Master J. A. achieved an almost mythical status in the Portuguese photographic market, having been the official repairer for world-renowned German brands like Leica, Rolleiflex, and Zeiss Ikon after years of specialized training in Germany. José Carlos inherited this legacy of expertise and rigor, although his initial passion was architecture—a detail that is today reflected in his meticulous and functional approach to the restoration of every piece.
The episode narrates José Carlos's early and forced entry into the profession in 1977. He recalls with humor and tenderness his first salary of 200 escudos, which paid for the "best vacation" of his life, and his subsequent immersion into the world of Kodak Instamatics. His true test, however, came in 1984, when Master J. A. passed away suddenly. José Carlos, still young, found himself alone, forced to work seven days a week to honor large contracts with companies like Agfa Gevaert. This resilience in the face of adversity shaped him, granting him the conviction that "nothing can knock me down." The episode offers a glimpse into this unwavering determination, which was essential for the business's survival through the decades.
The narrative gains new momentum when addressing the digital transition. José Carlos describes the period as turbulent, recalling how digital equipment salespeople, in their eagerness for quick profits, inadvertently caused the ruin of countless traditional photography shops across the country. The Master, however, stood firm, driven by the knowledge that most faults, even in digital cameras, are of mechanical origin. He reveals that he only regained pleasure in his work with the resurgence of analog photography, which allows for a "good finish," the polishing of chrome, and the restoration that makes a camera look "fresh out of the factory." For him, repairing an analog camera is an art of disassembly, cleaning, and lubrication, whereas digital repair is reduced to the cold "replacement of parts."
The Master of Light also reflects on the future and the profound meaning of his work. Today, his main clientele is unexpectedly young, aged between 15 and 35, who seek to restore their parents’ and grandparents’ cameras. José Carlos explains that this new generation values the superior aesthetic quality of the negative, the faithful colors, and the skin tones that digital struggles to replicate. This is not a fleeting trend, but a conscious choice for beauty and durability. His greatest wish is that his son and his collaborators, like the faithful Gil, will continue this noble art, ensuring that the legacy of Master J. A. and the richness of Portuguese photography remain á vista for future generations. An unmissable ode to the history, technique, and affection hidden within every click.
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