Este episódio de Sentir Pensar E Agir (S01E22) oferece uma das conversas mais íntimas e culturalmente ricas da temporada. Rómulo Ávila recebe Zé Nandes, uma figura icónica e inegável da comunidade lusófona, conhecido não só pelo seu extraordinário talento no improviso — que abrange tanto a cantoria açoriana como a desgarrada continental — mas também pela sua entrega incondicional à defesa e honra da cultura e tradição portuguesa no Canadá. Prepare-se para conhecer o homem por detrás do artista, um percurso marcado pela resiliência, pela arte espontânea e por uma visão sem filtros sobre a diáspora.
A entrevista começa por desvendar as raízes de Zé Nandes na Terceira, Açores, e a dolorosa infância que moldou o seu caráter e a sua arte. Com uma honestidade brutal, Zé Nandes revela o impacto profundo da perda da mãe aos oito anos, um evento trágico que o ensinou sobre a dureza da vida e a importância de seguir os seus próprios sonhos. É neste período de adversidade que emerge o seu talento inato: o dom do improviso. Zé Nandes sublinha que a verdadeira cantoria ou desgarrada não é uma brincadeira nem karaoke, mas sim um diálogo com conteúdo, segmento e que exige um dom autêntico. Ele partilha o seu credo artístico: o improviso é uma missão que lhe foi confiada por Deus para levar alegria, convívio e harmonia às pessoas, um dom que ele tem a responsabilidade de transmitir. Esta perspetiva eleva a sua arte muito além do entretenimento, posicionando-a como um pilar de união cultural.
A conversa segue para a sua mudança para o Canadá, um passo que foi menos uma escolha e mais uma necessidade, mas que se revelou a melhor decisão para o desenvolvimento dos seus projetos. O episódio explora as dificuldades de ser um artista a apostar numa carreira no tempo do tabu, onde a ambição era vista como 'malandragem', e o sacrifício envolvido na criação de músicas originais face à facilidade do download e do karaoke generalizado. A sua dedicação é notável, mencionando o investimento avultado para produzir música de qualidade, um esforço que ele sente que deveria ser replicado pelos talentos da comunidade.
Um dos pontos altos e mais marcantes do episódio é a análise sem filtros de Zé Nandes à comunidade portuguesa no Canadá. O artista não hesita em criticar a falta de união e o foco excessivo na crítica à vida alheia, em detrimento do apoio e da participação ativa nas iniciativas culturais. Ele lamenta o facto de o seu valor, e o de outros que se dedicam à cultura, muitas vezes só ser reconhecido fora do seu círculo mais próximo – o tristemente célebre lema de que "Santos de casa não fazem milagres". Zé Nandes faz um apelo veemente para que os portugueses, especialmente os descendentes nascidos no Canadá, se orgulhem do seu país com novecentos e tal anos de história, e que a comunidade trabalhe em prol de uma maior unificação, respeitando os espaços de todos. Ele defende que a cultura e a tradição não podem ser assassinadas por apadrinhamentos ou intrigas políticas, devendo ser apresentadas na sua forma pura e original.
O episódio encerra de forma magistral com um desafio que Zé Nandes aceita de imediato: improvisar uma quadra final usando as palavras Camões, Luciano, Rômulo e Açores. O resultado é um momento de pura poesia e homenagem, que demonstra o calibre do seu talento e a autenticidade da sua entrega. Esta é uma entrevista que não só celebra a arte do improviso, mas que também inspira à reflexão sobre o significado de ser português e o papel de cada um na construção de uma comunidade mais forte e mais unida no estrangeiro.
This episode of Sentir Pensar E Agir (S01E22) offers one of the most intimate and culturally rich conversations of the season. Rómulo Ávila welcomes Zé Nandes, an iconic and undeniable figure in the Lusophone community, known not only for his extraordinary talent in improvisation—encompassing both Azorean cantoria and continental desgarrada—but also for his unconditional dedication to defending and honoring Portuguese culture and tradition in Canada. Prepare to meet the man behind the artist, a journey marked by resilience, spontaneous art, and an unfiltered view of the diaspora.
The interview begins by unveiling Zé Nandes' roots in Terceira, Azores, and the painful childhood that shaped his character and his art. With brutal honesty, Zé Nandes reveals the profound impact of losing his mother at the age of eight, a tragic event that taught him about the harshness of life and the importance of following his own dreams. It is in this period of adversity that his innate talent emerges: the gift of improvisation. Zé Nandes emphasizes that true cantoria or desgarrada is neither a joke nor karaoke, but a dialogue with content, structure (segmento), and requires an authentic gift. He shares his artistic credo: improvisation is a mission entrusted to him by God to bring joy, fellowship, and harmony to people, a gift he has the responsibility to transmit. This perspective elevates his art far beyond entertainment, positioning it as a pillar of cultural unity.
The conversation moves to his relocation to Canada, a step that was less a choice and more a necessity, but which proved to be the best decision for the development of his projects. The episode explores the difficulties of being an artist pursuing a career in a time of social taboos, where ambition was often viewed as 'troublemaking' or idleness, and the sacrifice involved in creating original music versus the ease of widespread downloading and karaoke. His dedication is notable, as he mentions the significant investment required to produce quality music, an effort he feels should be replicated by talents within the community.
One of the highlights and most striking moments of the episode is Zé Nandes' unfiltered analysis of the Portuguese community in Canada. The artist does not hesitate to criticize the lack of unity and the excessive focus on criticism of others' lives, to the detriment of active support and participation in cultural initiatives. He laments that his value, and that of others dedicated to culture, is often only recognized outside his closest circle—the sadly famous adage that "Prophets are not recognized in their own land." Zé Nandes makes a vehement plea for Portuguese people, especially descendants born in Canada, to take pride in their country with its nine hundred-plus years of history, and for the community to strive for greater unification, respecting everyone's space. He argues that culture and tradition cannot be assassinated by nepotism or political intrigue, and must be presented in their pure and original form.
The episode concludes masterfully with a challenge Zé Nandes immediately accepts: to improvise a final quatrain using the words Camões, Luciano, Rômulo, and Açores. The result is a moment of pure poetry and homage, demonstrating the calibre of his talent and the authenticity of his commitment. This is an interview that not only celebrates the art of improvisation but also inspires reflection on the meaning of being Portuguese and the role of each individual in building a stronger and more united community abroad.
Up Next in Season 1
-
Martin Medeiros
Em mais um episódio inspirador de Sentir Pensar E Agir (S01E21), o anfitrião Romulo Avila convida para uma conversa franca e reveladora Martin Medeiros, Vereador Regional na Região de Peel e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Brampton. Este episódio é um mergulho profundo na jornada de um líd...
-
Vitor Silva
Vitor Silva Sem Filtros: O Homem, a Política e a Comunidade Lusófona
No vigésimo episódio da primeira temporada de Sentir Pensar E Agir, Rómulo Ávila recebe Vitor Silva, uma figura central e influente na comunidade luso-canadiana, para uma entrevista franca e "sem filtros". Silva, que se define ...
-
Paula Medeiros
Numa das conversas mais íntimas e inspiradoras de Sentir Pensar E Agir, o anfitrião Rómulo Ávila recebe Paula Medeiros, uma voz incontornável da Comunidade Portuguesa no Canadá. Num episódio que desvenda a essência de uma verdadeira líder, Paula Medeiros partilha a sua extraordinária jornada: uma...