Num episódio cativante e profundamente pessoal do "Mais do que uma conversa," o anfitrião Francisco Bugalho senta-se com o extraordinário artista e mestre de Capoeira, Mestre Xocô. Este episódio é uma jornada imersiva na alma de um músico que desafia géneros, fundindo ritmos tradicionais afro-brasileiros com elementos indígenas, psicadélicos e futuristas para criar um som que é, ao mesmo tempo, ancestral e inovador. Desde o primeiro momento, Mestre Xocô cativa com uma sabedoria poética que revela a sua arte como sendo muito mais do que música—é uma forma viva e respiratória de resistência cultural e expressão espiritual.
Ao longo da conversa, descobrimos que o caminho de Mestre Xocô para a música não foi uma escolha consciente, mas uma revelação divina. Ele explica como a roda de capoeira se tornou o seu primeiro palco, um espaço sagrado onde descobriu o seu talento como compositor e "ritmista". Esta poderosa ligação à Capoeira, uma prática outrora proibida no Brasil, é um tema central, destacando as lutas históricas e pessoais que moldaram a sua arte. Ele descreve a sua música como um tributo aos antepassados, um canal direto para as vozes dos escravizados e dos povos indígenas, e um meio de lutar por aqueles que são frequentemente silenciados. A sua arte não é apenas uma performance; é um testemunho de resiliência, um poderoso ato de protesto e uma promessa de honrar o passado enquanto se constrói o futuro.
O episódio aprofunda-se nas inspiradoras colaborações de Mestre Xocô, em particular a sua parceria com o artista indígena canadiano Classic Roots. Ele partilha como este projeto, impulsionado pela visão da sua esposa, foi uma profunda e espiritual reunião de dois povos das Américas. Foi um momento de "irmandade espiritual" onde as fronteiras criadas pelo homem desapareceram, sendo substituídas por uma ligação ancestral partilhada. Este segmento poderoso sublinha a linguagem universal da arte e a sua capacidade de forjar laços que transcendem a geografia e a história.
Mestre Xocô também fala abertamente sobre a sua difícil decisão de deixar o Brasil. Ele discute com franqueza o preconceito e a discriminação que enfrentou, revelando que a sua migração para o Canadá foi uma forma de "fuga". Apesar dos desafios, ele vê a sua mudança como uma necessidade para a sua sobrevivência e dignidade como artista. Ele partilha como se reconcilia com a sua terra natal todos os dias, produzindo e promovendo a cultura popular brasileira no estrangeiro, construindo uma ponte entre dois mundos e mantendo a essência do Brasil viva dentro de si. A entrevista é um olhar cru e emotivo sobre as batalhas pessoais de um artista, a sua fé inabalável e a sua dedicação ao seu ofício e à sua comunidade.
No final, Mestre Xocô revela uma notícia empolgante sobre o seu próximo álbum, “Orum,” uma palavra iorubá para "céu". Ele explica o título do álbum como um reflexo da sua jornada pessoal, simbolizando a sua transição de um estado de "inferno" para um lugar de "céu" criativo e espiritual. Ele vê-se como um "movimento de transformação," em constante evolução e adaptação, como evidenciado pela sua recente tour europeia, onde atuou com um DJ pela primeira vez. Este episódio é mais do que uma conversa; é um mergulho profundo na alma de um verdadeiro mestre que nos lembra que as nossas vozes são a nossa ferramenta mais poderosa, e que com fé e comunidade, nunca estamos verdadeiramente sozinhos.
In an enthralling and deeply personal episode of "Mais do que uma conversa," host Francisco Bugalho sits down with the extraordinary artist and master of Capoeira, Mestre Xocô. This episode is an immersive journey into the soul of a musician who defies genres, blending traditional Afro-Brazilian rhythms with Indigenous, psychedelic, and futuristic elements to create a sound that is both ancient and groundbreaking. From the first moment, Mestre Xocô captivates with a poetic wisdom that reveals his art as far more than just music—it is a living, breathing form of cultural resistance and spiritual expression.
Throughout the conversation, we discover that Mestre Xocô's path to music was not a conscious choice but a divine revelation. He explains how the Capoeira circle, or "roda," became his first stage, a sacred space where he realized his talent as a composer and a "rhythm-maker." This powerful connection to Capoeira, a practice once forbidden in Brazil, is a central theme, highlighting the historical and personal struggles that have shaped his art. He describes his music as a tribute to the ancestors, a direct channel for the voices of the enslaved and the Indigenous peoples, and a means to fight for those who are often silenced. His art is not just a performance; it's a testament to resilience, a powerful act of protest, and a promise to honor the past while building the future.
The episode delves into Mestre Xocô's inspiring collaborations, particularly his partnership with the Canadian Indigenous artist, Classic Roots. He shares how this project, driven by his wife’s vision, was a profound and spiritual reunion of two peoples from the Americas. It was a moment of "spiritual brotherhood" where the man-made borders disappeared, replaced by a shared ancestral connection. This powerful segment underscores the universal language of art and its ability to forge bonds that transcend geography and history.
Mestre Xocô also opens up about his difficult decision to leave Brazil. He candidly discusses the prejudice and discrimination he faced, revealing that his migration to Canada was a form of "escape" or "fuga." Despite the challenges, he views his move as a necessity for his survival and dignity as an artist. He shares how he reconciles with his homeland every day by producing and promoting popular Brazilian culture abroad, building a bridge between two worlds and keeping the essence of Brazil alive within him. The interview is a raw and emotional look at an artist's personal battles, his unwavering faith, and his dedication to his craft and his community.
Towards the end, Mestre Xocô reveals exciting news about his upcoming album, “Orum,” a Yoruba word for "heaven." He explains the album's title as a reflection of his personal journey, symbolizing his transition from a state of "hell" to a place of creative and spiritual "heaven." He sees himself as a "movement of transformation," constantly evolving and adapting, as evidenced by his recent European tour where he performed with a DJ for the first time. This episode is more than a conversation; it's a deep dive into the soul of a true master who reminds us that our voices are our most powerful tool, and that with faith and community, we are never truly alone.
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