Num episódio profundamente comovente e introspectivo de "Portugal á Vista", o aclamado autor português Valter Hugo Mãe abre o seu coração sobre o seu mais recente romance, "Deus na Escuridão". Esta obra literária nasceu de um período de luto pessoal e necessidade emocional, inspirado pela perda do seu jovem sobrinho para o cancro. Para o autor, o livro tornou-se uma forma de processar a dor, de se reconectar com o núcleo emocional da sua família e de refletir sobre temas universais como o amor, a perda e a própria divindade humana que reside em cada um de nós.
Com uma honestidade pungente, Valter Hugo Mãe partilha como a sua mãe se tornou um símbolo de unidade familiar durante este período difícil, uma figura central que o levou a explorar a sacralidade da maternidade. Traçando paralelos entre o amor incondicional de uma mãe e o amor divino, o autor articula uma perspetiva singular: em "Deus na Escuridão", é o próprio Deus quem aprende o amor através das mães, e com esse amor, inevitavelmente, surge o sofrimento como parte intrínseca da experiência humana. O romance retrata a fé não como uma busca pelo divino num plano distante, mas como uma crença espiritual na própria humanidade, reforçando a ideia de que a nossa espécie se constrói sobre a interdependência e o cuidado mútuo.
No coração da narrativa encontramos a relação fraternal entre dois irmãos, Felicíssimo e Pouquinho, que se ergue como um símbolo universal de salvação através da fraternidade – um compromisso inabalável de salvar e ajudar um ao outro nos momentos mais sombrios. Embora profundamente pessoal na sua génese, a história transcende o individual, carregando um peso universal que procura relembrar os leitores da importância vital dos laços emocionais, da empatia e da solidariedade, especialmente quando a escuridão parece prevalecer.
Valter Hugo Mãe também oferece uma janela para o seu processo criativo, confessando que o seu desafio primordial não reside na falta de inspiração, mas sim na dificuldade de se afastar da escrita. Vive perpetuamente imerso no mundo das palavras e do pensamento criativo, numa busca incessante pela perfeição. Com humildade, partilha a convicção de que ainda não escreveu o seu melhor livro, uma obsessão que o impulsiona a continuar a trabalhar incansavelmente, a explorar novas narrativas e a aprofundar a sua arte.
Num momento de reflexão sobre a sua trajetória literária, recorda com profunda gratidão a atribuição do prestigiado Prémio José Saramago, descrevendo-o como um evento que lhe mudou a vida. A menção pessoal e o reconhecimento direto de José Saramago tiveram um impacto particularmente significativo, reforçando a sua crença no propósito do caminho que escolheu como escritor e validando a sua voz única no panorama literário português.
Nos momentos finais deste episódio revelador, Valter Hugo Mãe dirige uma mensagem calorosa e sentida à comunidade portuguesa no Canadá, expressando a sua nostalgia pelas visitas passadas a Toronto e Montreal e a sua profunda admiração pelos museus e pela arte canadiana. Partilha a marcante experiência de descobrir uma exposição transformadora do artista visual americano Nick Cave (e não o músico) durante uma das suas viagens ao Canadá, sublinhando o poder da arte em todas as suas formas. Manifesta ainda a sua esperança de regressar em breve para se reencontrar com a comunidade e continuar a partilhar a sua paixão pela literatura e pela cultura.
Este episódio de "Portugal á Vista" oferece um vislumbre raro e íntimo da paisagem emocional e criativa de uma das vozes literárias mais profundas e singulares de Portugal. Com a sua habitual maestria, Valter Hugo Mãe entrelaça filosofia, espiritualidade e perda pessoal numa conversa cativante sobre o poder da narrativa, a fé na humanidade e a natureza transformadora da arte e da literatura. Uma oportunidade imperdível para conhecer o homem por detrás das palavras e a inspiração que molda a sua escrita.
In this deeply moving and introspective episode of "Portugal á Vista," acclaimed Portuguese author Valter Hugo Mãe opens his heart about his latest novel, "Deus na Escuridão" (God in the Darkness). This literary work was born from a time of personal grief and emotional need, inspired by the loss of his young nephew to cancer. For the author, the book became a way to process pain, reconnect with his family's emotional core, and reflect on universal themes such as love, loss, and the very human divinity that resides within each of us.
With poignant honesty, Valter Hugo Mãe shares how his mother became a symbol of family unity during this difficult period, a central figure who led him to explore the sacredness of motherhood. Drawing parallels between a mother's unconditional love and divine love, the author articulates a singular perspective: in "Deus na Escuridão," it is God himself who learns love through mothers, and with that love, inevitably, suffering arises as an intrinsic part of the human experience. The novel portrays faith not as a search for the divine in a distant realm, but as a spiritual belief in humanity itself, reinforcing the idea that our species is built on interdependence and mutual care.
At the heart of the narrative, we find the fraternal relationship between two brothers, Felicíssimo and Pouquinho, which stands as a universal symbol of salvation through fraternity – an unwavering commitment to saving and helping each other in the darkest of times. Although deeply personal in its genesis, the story transcends the individual, carrying a universal weight that seeks to remind readers of the vital importance of emotional bonds, empathy, and solidarity, especially when darkness seems to prevail.
Valter Hugo Mãe also offers a window into his creative process, confessing that his primary challenge lies not in a lack of inspiration, but rather in the difficulty of stepping away from writing. He lives perpetually immersed in the world of words and creative thought, in a relentless pursuit of perfection. With humility, he shares the conviction that he has not yet written his best book, an obsession that drives him to continue working tirelessly, exploring new narratives, and deepening his art.
In a moment of reflection on his literary journey, he recalls with profound gratitude the awarding of the prestigious José Saramago Prize, describing it as a life-changing event. The personal mention and direct recognition from José Saramago had a particularly significant impact, reinforcing his belief in the purpose of the path he chose as a writer and validating his unique voice in the Portuguese literary landscape.
In the final moments of this revealing episode, Valter Hugo Mãe addresses a warm and heartfelt message to the Portuguese community in Canada, expressing his nostalgia for past visits to Toronto and Montreal and his deep admiration for Canadian museums and art. He shares the striking experience of discovering a transformative exhibition by American visual artist Nick Cave (not the musician) during one of his trips to Canada, underscoring the power of art in all its forms. He also expresses his hope to return soon to reconnect with the community and continue to share his passion for literature and culture.
This episode of "Portugal á Vista" offers a rare and intimate glimpse into the emotional and creative landscape of one of Portugal's most profound and singular literary voices. With his usual mastery, Valter Hugo Mãe intertwines philosophy, spirituality, and personal loss in a captivating conversation about the power of storytelling, faith in humanity, and the transformative nature of art and literature. An unmissable opportunity to get to know the man behind the words and the inspiration that shapes his writing.
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